Pesquisar este blog

segunda-feira, 22 de junho de 2009

A PEDRA É O CAMINHO EM JOÃO CABRAL


Em seu livro A Educação Pela Pedra, João Cabral de Melo Neto apresenta características que são determinantes em sua obra: centralização de temas nos motivos nordestinos, usando para isso a imagem concreta da seca; a escrita da poesia como um objeto que revela o real, "dirigindo-se à inteligência do leitor, através de um apelo poético racional".


Segundo a escritora Marly de Oliveira, é em Educação Pela Pedra que a "construção" dos poemas de Cabral vai ser mais complexa: "há poemas permutacionais, o Nordeste, sua cana e sua secura gerando o nordestino de falar pedregoso. É um momento alto da obra cabralina e um bom desafio ao leitor..."


Esse falar pedregoso do Nordestino transmuta-se para a escrita do poeta. Para a poesia representar a aridez e a concretude, João Cabral recorre ao rigor na escrita. Com esse rigor, o poeta escreve seus poemas, nos quais as características predominantes serão a ausência de adjetivos (quando os utilizar, esses serão concretos), distanciamento do eu-lírico e, principalmente, o uso de signos que representam sua região como a pedra, a cana, o rio, a poça. Esses signos são fundamentais, pois são elementos plásticos de ilustração de seus poemas.


Ressalta-se que esse rigor na obra cabralina muito tem a ver com as influências que o poeta sofreu ao ler os ensaios críticos de Paul Valéry. Marly de Oliveira escreve: "Valéry será sempre sinônimo da inteligência levada ao extremo, sobretudo na parte em prosa, de natureza reflexiva e crítica".


Cabe lembrar, para se ater nesse rigor cabralino, muito inspirado nos textos de Valéry, um outro autor que escreveu a respeito das lições do escritor francês. Ítalo Calvino em seu livro Seis Propostas para o Próximo Milênio, no capítulo intitulado Exatidão, destaca três concepções fundamentais para o ato da criação literária. Essas concepções encontram correspondência direta com a obra do poeta brasileiro. Segundo Calvino, a exatidão na escrita significa principalmente:

1) Um projeto de obra bem definido e calculado;

2) Evocação de imagens visuais nítidas, incisivas, memoráveis;

3) Uma linguagem que seja a mais precisa possível como léxico em sua capacidade de traduzir as nuanças do pensamento e da imaginação.


Tais concepções são recursos contundentes na obra de João Cabral. Em A Educação Pela Pedra, livro publicado em 1966, esses processos de escrita encontram seu ponto alto, traduzindo-se em poemas aparentemente anti-líricos com signos em que se supervalorizará o concreto como meta a ser atingida.