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quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

TAGLIAFERRI TECENDO A MANHÃ

Pena que, no Brasil, a música instrumental não ocupe seu lugar merecido de destaque. Tudo o que se escuta nas rádios da hora é o som: MUITO OBRIGADA, MAS NÃO QUERO! Raros são os programas que se empenham em divulgar o que de legal se faz por essas bandas da América do Sul. É preciso resevar um espaço para a preterida música instrumental. Uma das melhores apresentações que vi, nos últimos tempos, foi o encontro de Paulo Moura (saxofonista e clarinetista) e Yamandu Costa (violonista). Paulo tocando com a maestria e com a beleza de se saber sábio, Yamandu com a ansiedade de quem é prodígio. Resultado disso: explosão musical! Entende quem viu e ouviu.
Além desses caras, existem muitos que estão aí, na roda, insistindo em fazer o que melhor sabem: a ótima música. Nomes? Egberto Gismonti, Chico Saraiva, Benjamin Taubkin, Plauto Cruz e muitos outros. Finalizo com Fábio Tagliaferri, tocador de viola, compositor e intérprete. Amigo e participante do grupo paulistano, pra lá de bom, composto por Luiz Tatit, Ná Ozzetti, Wisnik, Paulo Tatit, Mônica Salmaso, Arthur Nestrovski... No cd intitulado Viola, Tagliaferri toca composições próprias e interpreta Mané Silveira (Choreto), Edsel Gomes (La Violetera), Paulinho da Viola (Inesquecível), Wisnik (Terra Estrangeira). Fecha o cd com composição própria e letra de David Calderoni, única música cantada, com voz de Eugénia de Melo e Castro. Poesia pura, além de fazer uma justa homenagem ao poeta João Cabral. Vale conferir.
Pela Manhã (Fábio Tagliaferri e David Calderoni)
Dista o quebra-mar
desta embarcação
cento e dez aflições
ao nordeste sul
mede a direção:
graus e pés
nós e mãos
Grita a megalópole e arranha o céu
Porém cosmopolita astrolábio do eu
saturnais
viração
passa-anéis
vão e vão
Freme a incandescência germinal da névoa vã
Cruza e se entrecruza a cabralina luz-balão
Brota ao léu
a inicial
dos confins
Hora de partir
flecha do olhar
Desfechar
acordar
Zéfiro a zunir
dardo harpejador
Despertar dessa dor
Calma pulsação febril da estrela-anã
nos galos do poema Tecendo a Manhã
Dor de amor
é ilusão
ilusão
é ilusão
Amar, não!